domingo, 1 de março de 2009

A Casta e o Impuro


Ódio. Descontrole. Indignação.
Ela abandonou os afazeres e quis vir falar comigo. Me acalmar.
Não podia. Não precisava. Não devia.
Ela fazia um contraste estranho com o ambiente. Princesa do castelo
Linda. Carismática. Tranqüilizante.
Ela não precisava estar naquele lugar.
Inóspito. Decadente. Odioso.

"Por que você está assim?"
"Não é da sua conta, volte pra baixo e vá trabalhar." - Rude como sempre fui.
"Por que está me tratando assim?"
"Você não é especial. Trato todos assim."
"Eu não gosto de te ver assim."
"Então vire as costas e me esqueça."
"Não quero te esquecer."
"Mas deve."
"Quem é você pra me dizer o que devo fazer?"
"Ninguém. Por isso mesmo, me esqueça." - Acendi um cigarro.
"Eu te amo." - Me quebrou por dentro.
"Não faça isso..." - clamei.
"Não posso te amar? Tenho sentimentos, sou um ser humano." - Se explicou.
"Parabéns então."
"Não estou pedindo que me ame. Só disse que eu te amo." - as palavras sairam quase mudas de sua boca.
"Grande coisa." - Estava cego, surdo e mudo. Nem sabia o que dizer
"Vai dizer que porque você tem esse jeito durão e frio, não tem coração? Não ama? Não chora?" - esbravejou.
"É." - tentei me esquivar com uma confirmação simples.
"Eu te odeio." - Derrubou o cigarro da minha mão.
"Não me amava há alguns segundos atrás?" - ironizei
Silêncio. Meus olhos de artilheiro perfuraram os olhos sensíveis dela.
Me beijou. E sentir o toque dos lábios dela novamente me inebriou.
"É, eu te amo." - abraçou-me forte.
"Desculpe..." - sussurrei.
Lágrimas caíram. As minhas. Ninguém precisava vê-las, apenas eu as senti - como uma torneira gotejando na madrugada, te impossibilitando de dormir.
Estou sendo tomado por um sentimento estranho e inominável.
Mas alguns o chamam de amor. Outros o chamam de medo.


[...] [/Anônimo]

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