sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Coincidencia. Destino. Qualquer coisa.
E eu que achei seus olhos tão convidativos, tão chamativos. Poderia me ver pela janela.
Uma palavrinha qualquer e alguns milhares de significados que ficam presos atrás da lingua. Um pouco mais fundo. Talvez, atrás do próprio peito. Ou do desejo.
Mexe no cabelo, cruza as pernas. Olhar firme.
Cruza os braços, olha suas pernas e retoma seu olhar sensitivo para mim.
Não tinha dúvidas. Eu sabia disso também.
Eu não tinha certeza. Ele tinha por mim.
Pensei no que dizer e não. Ele parecia tropeçar nas palavras. Parecia ter o que dizer e não ter ao mesmo tempo.
Uma ou duas horas assim para ter certeza de que era você. É você.
Alguns suspiros, risos sem graça de canto de boca. Olhares, olhares e mais olhares. Pode me entender? Está vendo aqui? Pode ver?
Aquele olhar espelho. Posso sim, posso me ver em seus olhos. Que incrível. Eu na sua janela.
Talvez um aperto de mão, um aperto no ombro, um aperto. Talvez um abraço, um beijo que escapa e vai para o lugar errado. E escapa.
Um ciuminho bobo também, de alguma amiga, de algum livro, de alguma tarde fria sem nada pra fazer.
Às 23:00, às 00:00 horas. Aqui e alí. Eu sei que pode.
E assim foge. Assim volta. Assim sorri e desaparece. Assim se entrega e desintegra. Deixa mais um pouco sua imprevisibilidade de lado.
Deixa o "sim" ou o "não" até que eu te conheça. Vai ter oportunidades de me surpreender.
Um milhão e meio de pensamentos efemeros. Um milhão e meio de perguntas com respostas. Dois milhões de gestos com medo de repúdio ou não afetividade.

Eu te odeio, apenas isso. Odeio o bastante para ser obsecada.
Tardes juntos. Tardes e noites. Tarde da noite. Noites e dias. Um amontoado de tudo. De você, então...
Uma bagunça. Uma grande bagunça de você. Você é uma grande bagunça. Bagunça, para mim, necessária.
Alimenta o pensamento, a ira, a vontade e as borboletas.
Eu sei que sou um mundo só. Sei também que quando está comigo esquece o mundo lá fora. Se não, para que tanta chuva?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

“Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando a pé pra casa, avariada. Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor. Era melhor.”



(Divã, Martha Medeiros)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A noite caiu como um véu negro em seus pensamentos amargos e efemeros. Esperou a noite e ela veio. Assim ela esperava e almejava mais. Ela sempre esteve alí, o céu é que não a vê.
Teve como refúgio seus medos e desejos. Seus medos que lhe proporcionaram o nada. Deles, não tirou absolutamente nada. E seus desejos, estes que deixaram-lhe com seus pensamentos, lembranças e algumas marcas no pescoço, talvez.
Naquela noite, não esperava nada. Não queria nada além de seu costume. Nada além de suas músicas. Nada além de seu corpo tocando o vento. Ninguém por perto.
Ao telefone não atendia. Ao seus pensamentos não atendia. Apenas sentia e ouvia o som do vento.
Obrigou-lhe a abrir os olhos. Obrigou-lhe sorrir, quem sabe. Esperava algo?
Três passos a frente e alí estava o vento. Alí estava a brisa, alí estava seu estado mais pacifico possível. Estava sua calma, sua angustia. Estava seu medo e sua segurança. Estava sua paixão e sua dor.
Tocou-lhe os cabelos, tocou-lhe todo o corpo e apagou seu cigarro. Um sorriso como resposta, apenas. O vento.
Se lembrou do passado, gastou seu futuro alí. Fechou as mãos e os olhos. Suspirou profundamente e deixou que a música entrasse em sua alma.
O vento cada vez mais forte. O toque cada vez mais forte. Os pensamentos. Tudo. Mais.
Poderia lhe visitar todas as noites. Perder o tempo. Perder a lua. Ninguém olharia pra ela.
Achava mesmo que seria esquecida pela noite. Achava mesmo que seria um simples objeto. Assim como lhe tem a obsessão, mas lhe falta o objeto. Um objeto. O objeto.
Tente acalmar a noite antes que a leve.
Juradeira. Desgraçada.
Acha que o mundo acaba em sua mãos. Acha que o mundo começa em seus principios.
Maldita.
Apenas ela. O mundo inteiro é ela. E é dela. Para ela.
Jura. Se sente. Se perde em outros e se encontra nela.
6 dedos. 6 doses. 6 medos. Sem aflição.
Se guarda para o perigo. Se vende ao pecado. Se troca por cigarros. Se ajoelha aos pés do inferno.
Um suspiro a cada grito. Geme a cada desespero. Sorri e espera a chuva passar para poder ser de novo.
Quer, te espera. Destruidora, juradeira e desgraçada. Maldita e maldita.
Muito prazer em conhecê-lo.

Milord

Allez, venez, Milord!
Vous asseoir à ma table;
Il fait si froid, dehors,
Ici c'est confortable.
Laissez-vous faire, Milord
Et prenez bien vos aises,
Vos peines sur mon coeur
Et vos pieds sur une chaise
Je vous connais, Milord,
Vous n'm'avez jamais vue
Je ne suis qu'une fille du port,
Qu'une ombre de la rue...
Pourtant j'vous ai frôlé
Quand vous passiez hier,
Vous n'étiez pas peu fier,
Dame! Le ciel vous comblait:
Votre foulard de soie
Flottant sur vos épaules,
Vous aviez le beau rôle,
On aurait dit le roi...
Vous marchiez en vainqueur
Au bras d'une demoiselle
Mon Dieu!... Qu'elle était belle...
J'en ai froid dans le coeur...

Allez, venez, Milord!
Vous asseoir à ma table;
Il fait si froid, dehors,
Ici c'est confortable.
Laissez-vous faire, Milord,
Et prenez bien vos aises,
Vos peines sur mon coeur
Et vos pieds sur une chaise
Je vous connais, Milord,
Vous n'm'avez jamais vue
Je ne suis qu'une fille du port
Qu'une ombre de la rue...

Dire qu'il suffit parfois
Qu'il y ait un navire
Pour que tout se déchire
Quand le navire s'en va...
Il emmenait avec lui
La douce aux yeux si tendres
Qui n'a pas su comprendre
Qu'elle brisait votre vie
L'amour, ça fait pleurer
Comme quoi l'existence
Ça vous donne toutes les chances
Pour les reprendre après...

Allez, venez, Milord!
Vous avez l'air d'un môme!
Laissez-vous faire, Milord,
Venez dans mon royaume:
Je soigne les remords,
Je chante la romance,
Je chante les milords
Qui n'ont pas eu de chance!
Regardez-moi, Milord,
Vous n'm'avez jamais vue...
...Mais... vous pleurez, Milord?
Ça... j'l'aurais jamais cru!...

Eh ben, voyons, Milord!
Souriez-moi, Milord!
...Mieux qu' ça! Un petit effort...

(Milord-Edith Piaf)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Alguns minutos antes e eu poderia não mais crer nessa bobagem. Não lhe faz diferença, mas tenho sede por tua feiura. Não me olhe como se quisesse dizer algo, se quer, que diga. Eu espero atentamente. Sei que não diria, sei que não espera nada de minha parte, pois eu também não espero. Mova os lábios mais lentamente, por favor.
Não sabes, mas reparo em seus gestos, analiso suas formas e comparo seus dedos. Não deveria, guardo e me recuo.
Não sabes, mas penso em você enquanto mordo meus lábios. Bobagem pra um homem. Desejo pleno de uma guria.
Não sabes, talvez nunca saberá, mas alguns segundos atrás e eu tentaria te prender mais fortemente que em meus pensamentos. Não devo, guardo e me recuo.
Já em casa, me encontro com bebidas. E só, penso em você, esperando que apareça no crepúsculo. Penso em você um minuto após a meia noite. Penso e penso. Degustando meu whiskey fresco. Ah... Se fosse você.
Imagino como é sua esposa e vejo meu rosto em seu lugar. Imagino como seria. Imagino e imagino. Whiskey, whiskey.
Espere e não lhe tenho respeito. Espere e verás o porquê. Fique um pouco, ainda não é sua hora. Escape entre meus dedos, imaginação e braços. Não quero lhe despir de razão.
Lavo minhas mãos. Espere.
Não há nada tão importante que não possa esperar. Espere.
Deixei, estive, esteve. Estivemos.
Nada de dor, nada dói, nada de tentar por tanto tempo.
O tempo. O dilema. A voz interior.
Ela disse que tudo isso era pecado. Ela disse que tudo isso passa rápido.
Se livrou da hipocrisia e se prendeu ao medo.
Nada a declarar, após duas doses e meia. Nada mais. Nada além de um suspiro e mais um gole.
Deixou estar. Deixou, apenas. Lavou suas mãos assim como eu.
Ela se sentia distante, por mais que não quisesse, estava aqui.
Dançou o tango desesperadamente e suspirou por mais que nada lhe fosse lícito. Espere.
Seu olhar. Fugacidade plena, exorbitante. Meia noite. Meio dia dos diamantes.
Ao ouvir a valsa, esperou que o tempo percorresse seu corpo. Um dedo a mais. Mais uma dose.
Ela se enfrentou. Enfrentou o medo. E mais um suspiro pleno de dor.
Apenas esperou até que o tango acabasse, e assim, pudesse ouvir sua valsa interior.