sábado, 19 de outubro de 2013

Face 1

Aos poucos, os pontos de luz vão sumindo. Os sons da cidade são cobertos pelo silêncio, como um véu. A fumaça do cigarro que acaba de acender preenche a sacada, enquanto seus pensamentos preenchem as lacunas deixadas pelo silêncio. Perde-se aos poucos dentro de si, debaixo do leito da lua. Sente-se como se fosse o leito da lua. E o vento. O vento.
Flutua.
Sabe que pode ser não apenas parte da noite, como já se sente membro daquele céu, de todo o espaço, do seu próprio espaço. Espaço antes preenchido pela escuridão da noite, agora lapidado e colorido nos tons das memórias mais recentes.  Constrói aos poucos suas histórias. Seu começo, meio e fim. Seu começo meio fim.
Tenta tingir suas memórias de vermelho. Tenta fazer desabrochar algumas rosas. Tenta adivinhar em qual dessas paredes que o amor decide aparecer. Não vê.
Tenta uma nova cor. Um azul. Cor do céu de dia, cor da vontade de voar. Não vê.
Até todas as cores inimagináveis serem sobrepostas, atingindo um branco. Por fim, percebe que, de olhos vendados para a vida, jamais verá o essencial.
As cores da vida, as cores do interior. As cores das faces e dos olhos dos apaixonados.
Grito.

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